Há pouco mais de duas décadas, comecei minha vida prática em consultório médico, atendendo as especialidades de ginecologia e obstetrícia, sempre atenta à questão de que essa especialidade é fundamental na assistência global da saúde física e mental da mulher.
Já escrevi sobre essa questão na edição número um do Breves de saúde
www.brevesdesaude.com.br/ed01/ginecologista.htm.
Iniciei muito empolgada com inúmeras premissas que aprendera desde então, durante três anos de residência em ginecologia e obstetrícia e dois anos de preceptoria dos residentes, após a conclusão do curso médico regular de seis anos.
Uma delas era quanto à dieta a ser recomendada às gestantes. Dizia que o ideal era o consumo de muitas frutas, verduras e legumes frescos, proteína da carne de boi, porco, frango ou peixe, leite e derivados e reduzir o carboidrato.
Evitar enlatados, por conter muita substância química, embutidos, álcool, bebidas com corantes. Comer a cada quatro horas, porque a queda no açúcar sanguíneo da mãe não é boa para o feto. Enfim, preconizava uma dieta saudável, fracionada, sempre com o cuidado de evitar o ganho excessivo de peso, pois isso pode acarretar aumento das complicações durante a gravidez, tais como o diabete gestacional e as síndromes hipertensivas da gravidez.
Os esclarecimentos nutricionais me pareciam muito claros, não existia muitas dúvidas.
Porém, com o tempo, vários empecilhos foram se colocando no meio do caminho e hoje a orientação dietética de minhas gestantes é realizada pela nutricionista, melhor preparada que nós profissionais médicos.
Os peixes, preferencialmente os de menor porte, pois os grandes podem conter uma maior concentração de mercúrio.
É recomendável que o leite e seus derivados sejam desnatados, pois a retirada da gordura não reduz o teor de proteína e cálcio, essenciais para o feto e também para evitar a perda de massa óssea da mãe durante o ciclo gravídico-puerperal. Leite sem pasteurizar, nem se discute mais. A literatura americana sugere evitar queijos do tipo branco fresco, consumidos por latinos, pelo risco de contaminação por coliformes, que pode provocar diarréia. Nossa orientação diverge, pois esse tipo de queijo hoje tem controle adequado de higiene em sua produção e contém menos gordura do que os amarelos.
As verduras, quando mal higienizadas, podem transmitir a toxoplasmose, infecção que incidente nos segundo e terceiro trimestre da gravidez, tem risco superior a 80% de provocar malformações fetais severas. Essa mesma doença pode ser induzida pelo consumo de carnes cruas (carpaccio, steak tartar, quibe cru, manipulação da carne crua sem luvas) ou mal passadas, gema crua de ovo (pode estar presente na mousse de chocolate e na maionese caseira) e fezes de gatos.
Porém, não é só o toxoplasma que pode estar contido nas verduras, assim como qualquer outro alimento. Existe hoje uma poluição ambiental bem documentada, com contaminantes no solo, na água, no ar e na produção agropecuária, que podem ser maléficos no desenvolvimento fetal.
A poluição do ar ambiente parece estar associada a aumento do risco de parto prematuro, crescimento intra-uterino retardado (nenéns pequenos para a idade gestacional, com crescimento menor que o esperado), baixo peso ao nascimento, redução da circunferência cefálica fetal, e aumento dos índices de malformação.
Em países desenvolvidos, o ar respirado dentro de casas, escritórios, etc, enfim, em ambientes fechados, parece conter três a cinco vezes mais poluentes que aquele respirado em espaços abertos e as pessoas passam cerca de 90% de sua vida em ambientes fechados.
Essa poluição é maléfica principalmente aos seres em crescimento, porém, traz malefícios às pessoas de qualquer idade, tais como problemas respiratórios e de imunidade.
Então, hoje, as variáveis conhecidas da dieta são inúmeras, afora todas as outras que se especula, porém ainda não comprovadas.
Como orientar a dieta da gestante nesse novo contexto? E a dieta dos demais na população?
“Só o tempo dirá”. As pesquisas são realizadas ininterruptamente. É possível que em algum momento seja estabelecida uma dieta ideal para proteger mãe e feto dos efeitos adversos da poluição ambiental.
Eu me lembro de minha mãe contar sobre refeições em sua casa enquanto solteira, do consumo de rapadura e da carne de porco, desde que bem cozida ou assada. Que saudade daqueles tempos, em que a poluição era infinitamente inferior e o consumo do alimento era sem culpas, direcionado ao estabelecimento de um bom estado nutricional.

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