Momento difícil na vida de médicos e pacientes e na relação de ambos pode ser claramente visto na complicada situação de enfrentamento de ocasiões de complicações pós operatórias.   Quando ocorre a indicação de uma cirurgia uma vasta miríade de variáveis passa a ser ponderada para assegurar que o custo e risco de um procedimento cirúrgico seja menor que os benefícios que o mesmo pretende alcançar.   Dentre os fatores ponderados pelo médico estão as queixas da paciente, seus sintomas, sua idade, seu pêso, fatores que podem aumentar sua morbidade, ou seja os risco que poderá correr se submeter-se  á uma cirurgia e compara-los com os benefícios que a paciente irá obter com seu tratamento cirúrgico.     Por exemplo, uma paciente obesa de 75 anos que precisa submeter-se á uma histerectomia (retirada do útero) por câncer de endométrio corre mais risco que uma paciente magra, de 45 anos que terá que fazer a mesma cirurgia por hemorragia por exemplo.     Sendo a paciente mais velha, poderá ter doenças associadas áquela que lhe indicou a cirurgia como diabetes, hipertensão e poderá usar medicamentos como anticoagulantes que aumentam o risco de sangramentos por exemplo.     A paciente obesa normalmente tem mais dificuldade para ser operada por via laparoscópica e pior ainda por via aberta ou laparotômica.     A gordura diminui o campo cirúrgico, dificultando o acesso ás estruturas desejadas, promovendo mais risco de lesões de estruturas adjacentes, maior risco de sangramentos, de infecção pelo espessamento do tecido adiposo e de doenças tromboembólicas como a TEP (tromboembolismo pulmonar) que é fatal e pode ocorrer em até 30 dias após a cirurgia, porém é ocorrência relativamente rara.      Todos os fatores de risco devem ser ponderados, porém uma paciente com anemia importante por apresentar hemorragia uterina, sangrando muito todos os meses e que tentou tratamento clínico sem sucesso, terá como uma boa opção se submeter a uma histerectomia e com isso resolver seu problema e inclusive livrar-se do risco de padecer por anemia crônica, podendo  até ter a necessidade de submeter-se á transfusões de sangue para manter o equilíbrio de seu organismo evitando infecções e tendo condições de uma vida normal, trabalhando, cuidando de casa e dos filhos, por exemplo.

E afinal então como decidimos se vamos operar ou não a paciente?       Primeiramente nós cirurgiões deveremos decidir por procedimentos cirúrgicos e portanto mais agressivos em relação á outros, apenas após ter se esgotado todas as outras alternativas possíveis de tratamentos conservadores como os clínicos com uso de medicamentos, possibilidade de fisioterapia e etc.    O próximo passo é ponderar os riscos individuais das pacientes e após isso decidir pelo procedimento cirúrgico mais moderno e menos agressivo.      Operar uma paciente obesa por laparoscopia (apenas por 3 pequenas incisões) é mais fácil e menos arriscado que abrir uma grande incisão e introduzir as mãos na cavidade da mesma aumentando o risco de infecções, com mais dificuldade de visualização e acesso ao sítio cirúrgico por exemplo.    Ter a possibilidade de realizar procedimentos modernos e menos invasivos e oferece-los aos pacientes é uma ferramenta essencial para minimizar os riscos cirúrgicos.    O terceiro e importante passo é explicar tudo para paciente, começando por demonstrar porque a cirurgia é importante para ela, como será feita, quais os riscos, intercorrências, e tudo que poderá acontecer.   Por último antes dos pedidos dos exames pré-operatórios e avaliação dos anestesistas ou outros colegas que poderão ser necessários, avaliar estatisticamente se os riscos são realmente baixos ou se a cirurgia é opção de vida para paciente e que esses riscos devam ser corridos.     Quando falamos em estatísticas oferecemos aos nossos pacientes a chance de julgarem e optarem por vias de tratamentos, ou seja, os riscos dos procedimentos cirúrgicos foram analisados por anos por pesquisadores do mundo todo e estes estudos nos oferecem probabilidades como importantes ferramentas de decisão.   Por exemplo o risco de uma paciente apresentar uma fístula urinária (pequeno canal que vaza urina da bexiga ou ureter) após uma cirurgia de histerectomia é de 1 a 2% na maioria dos trabalhos, isto é, a cada 100 pacientes operadas 1 poderá apresentar o problema certa de 20 dias após ser operada.   E  aí?  Aí, que o risco é muito pequeno e que as vantagens de ser operadas suplanta esse risco, a chance de tudo ocorrer bem é muito superior a de apresentar uma fístula, mas então a pergunta:-Não tem risco né doutor, muito utilizada pelos pacientes deve ser respondida:-Sim, tem sim, mas o risco é muito baixo.    No caso das fístulas o risco obviamente não é fatal e pode ser resolvido, porém deve ser compartilhada a informação com a paciente, em outras situações de cirurgias mais graves esse risco deverá ser dividido com a paciente ou familiares já que o médico sabe que ele pode existir.     Resumindo colocamos tudo nos pratos de uma balança imaginária e vamos junto com a paciente tentar entender para onde ela pende, para o risco ou para o benefício do procedimento.

Diante de todos esses fatores envolventes nos resta saber diferenciar intercorrência cirúrgica de erro médico, pois muitas vezes pacientes e familiares esquecem do que foi discutido no consultório e que pelo menos deveria ter sido exposto em relação á riscos cirúrgicos e muitos logo pensam em erro médico.   Obviamente que maus profissionais podem realmente ser imprudentes, negligentes ou imperitos, porém em sua maioria aqueles que não são, diante de uma intercorrência cirúrgica irão rapidamente procurar resolver aquele problema com tratamento adequado quando possível, acolhendo a família, oferecendo todas as informações sem restrições.     Uma intercorrência cirúrgica é algo estatisticamente raro, a sua ocorrência é maior com aqueles profissionais que operam mais e portanto tem maior chance de experimentá-las.   A apreensão da paciente, assim como da família, principalmente em casos letais é algo muito difícil de lidar pelos dois lados.     Para o médico ter que reoperar um paciente, recorrer á colegas para recupera-lo ou na pior das hipóteses perde-lo é terrível, porém os bons profissionais que tem a confiança dos pacientes terão que saber lidar com tais dificuldades porque a vida é finita e a medicina ainda limitada em certas situações.

Todos sabemos que viver é correr riscos e que eles são inerentes á nossa existência, a sua ocorrência figura uma situação difícil para médicos, pacientes e suas famílias, porém confiança e seriedade por um lado, competência, humanidade e responsabilidade por outro normalmente facilitam que a melhor solução seja encontrada.

Todos sabemos que viver é correr riscos, nos cabe minimizá-los.

  1. 30 de janeiro de 2011

    Bom dia Dr.Francisco, a mãe de um amigo meu muito próximo esta em uma uti após ter sido submetida a uma histerectomia total, ela está entubada em vm, com hipoxemia grave, acho que ela esta com TEP, porém não foi confirmado pela tomo, ela é fumante crônica, tem 50 anos, pedi para ele questionar o pessoal da uti sobre desmame, por em ventilãção assistida e acelerer o processo ade extubação e em seguida instalar uma ventilação não invasiva, segundo o pessoal da uti o motivo da entubação foi por insuficiência respiratória aguda e uma pneumonia, qual a opinião do sernhor? Muito obrigado pela atenção, moro em Goiânia e trabalho na uti do instituto de angiologia.

    • 1 de fevereiro de 2011

      Bom dia Gustavo, pela sua descrição do caso em questão posso dizer que dados da história clínica da paciente e de sua evolução facilitariam uma análise para uma opinião propriamente específica. Cirurgias abdominais em pacientes com antecedentes evoluindo com insuficiência respiratória e descompensação hemodinâmica nos faz pensar em TEP mesmo, porém apesar de fumante há necessidade de informações sobre o tempo de evolução dos sintomas entre a intervenção cirúrgica e a instalação do quadro propriamente dito. Antecedentes tromboembólicos e hábitos de vida são importantes para uma manifestação clínica também. A CT helicoidal tem taxas de sensibilidade estão entre 57 a 100% , com especificidade de 78 a 100%, portanto muito importante para diagnóstico, mas gaso, cintilografia, arteriografia podem ser necessário. Em minha experiência presenciei poucos casos de TEP e nenhum pós histerectomia. Minha preferência é pela histerectomia laparoscópica que normalmente é realizada com menor trauma e tempo operatório, porém sempre opto pela análise de risco para TEP pré-operatório, realizando prevenção medicamentosa quando necessário e utilizo compressão de mmii eletrônica no intra-operatório para minimizar intercorrências. Em relação á pneumonia, acho pouco provável que a paciente apresentasse diagnóstico pré-operatório para tal, ou claro, não teria sido submetida ao procedimento antes de ser tratada. Não vejo que possa ter evoluido para tal por conseqüência direta do procedimento, talvez sendo sim uma complicação associada á evolução do quadro. Sinto não poder ajudá-lo mais com as informações que detenho sobre o caso, porém desejo boa sorte ao seu amigo e sua mãe.

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